Meu filho de dez anos veio perguntar qual é meu problema, mas como a princípio não entendi o motivo da crítica, acabei sendo brindada com o áudio de um grunhido e a figurinha de uma foca de óculos escuros, numa espécie de vraaau à guisa de julgamento, algo sobre minha "mania chata" de enviar mensagens usando pontos e vírgulas em excesso, supostamente um mau passo na etiqueta moderna, revista e ampliada online, veja você, desde quando está errado caprichar nas pausas, no estilo, sobretudo num vocabulário escorreito, quiçá donairoso, pronto, eis que agora recebo o gif de um gato lixando as unhas, só sei que é por essa correção excessiva que ele reclama, diz que pareço estar sempre digitalmente brava, pior, velha demais para aceitar trends linguísticas mais livres, leves, se pá mais soltas, com raiz no dialeto miguxo dos povos que habitavam a região do pré-Orkut, algo que faria Camões agorinha mesmo mandar um flip no panteão da língua portuguesa, absurdo incognoscível para mim, frequentadora tão assídua das páginas imortais de Evanildo Bechara e Celso Cunha, sequiosa pelo plural de hambúrguer ensinado pelo Professor Pasquale no comercial do McDonald's, mas também ávida pela torta de banana, enfim, olha aqui, meu filho, agora, sim, estou ficando um pouco irritada, peraí, não seja malcriado, não precisa cometer a baixeza de responder à própria mãe com emoji de joinha, logo eu, que pago uma fortuna de escola todo mês, e esse menino assim, um meliante vocabular, questiono-me até que outras vis vielas da leviandade léxica esse fedelho estará frequentando, ao aliterar "vc" com "kd" em becos escuros e chats do MineCraft, ora, ora, pois saiba que seguirei leal e gramatical, botando os pingos em todos os is, ainda que desde a última reforma ortográfica eu sinta saudades do trema e tenha desaprendido a regra do hífen, mas peraí, foco, não posso me desconcentrar de minha luta idiomática, inclusive perceba aqui a malícia, o calculismo de quem, opa, deixa cair um ponto e vírgula; tão achando o quê, respeitem minha história, já grafei muita "estória", e ainda que o Manual da Folha permita palavrão, prefiro dizer que estou devidamente p*** da vida, mas só pelo deleite de gastar asteriscos também, tão bonitinhos, afinal sou dessas, ninguém manda em mim, quer dizer, data venia, talvez apenas um certo guri de dez anos, então um beijo, filhinho, e ponto final. Leia mais (12/08/2024 - 17h00)
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